Sétimo Princípio das Leis Herméticas: Gênero

Todas as coisas no universo estão interligadas, não importa em que grau. Tudo que fazemos, pensamos e dizemos tem um impacto no todo. A força do nosso pensamento, o macro e o micro, o movimento contínuo, a atração de opostos, a compensação do movimento, os efeitos das nossas ações: tudo se interliga. E, assim como estamos no todo, o todo está em nós. Assim é o universo, e assim são os mecanismos por meio dos quais ele opera.

Se você precisar saber mais sobre como ele funciona, é a filosofia hermética que vai ajudar a esclarecer todos os pontos sobre todas as coisas. E isso se dá por meio dos sete Princípios Herméticos. Aqui, vamos abordar o último deles – o Princípio do Gênero.

Somos todos parte de tudo, e é graças a isso que temos um pouco de cada coisa em nosso ser. Não somos seres fechados em definição. O masculino e o feminino habitam em nós – seja na forma literal, seja de modo figurado.

Como um derivado do Princípio da Polaridade, o gênero é um indicativo do oposto de algo. Nesse caso, masculino e feminino. Aqui, entretanto, um não funciona sem o outro. Ou seja, a inexistência no ajuste desse “botão” de opostos impede o potencial de criação, geração e regeneração. Assim como yin e yang, é preciso que essas duas energias operem juntas para que haja a criação.

O ímpeto masculino encontra-se com a afabilidade do feminino. O arrojo divide espaço com a lhaneza. Aplicar um ou outro gênero como verdade absoluta em determinada situação não faz mais sentido.

Já se foi o tempo, por exemplo, em que existia somente profissão para homem e profissão para mulher. As mulheres sequer chegavam a cargos de chefia, pois se alegava que tinham “coração” demais para lidar com pressão, prazos, pessoas, demissões. O que se vê atualmente é que existe lugar para as emoções mais afetivas no ambiente corporativo. A paciência atribuída ao feminino também abriu espaço para profissões estressantes, tais como motoristas de ônibus, mecânicas, entre outras.

Por outro lado, o masculino na mulher também se revela. E, em vez da emoção e daquela docilidade esperada, temos mulheres fortes, firmes. Assim como o novo comportamento social trouxe a realidade dos pais que cuidam dos filhos, enquanto as mães trabalham em casa. Não se trata, portanto, de funções que só mulheres poderiam exercer, como bem se pregava no passado. E não é só uma questão de evolução, mas também da prova de que masculino e feminino convivem dentro de todo mundo, de forma que não há um meio de separá-los.

Nossa sociedade ainda enxerga o masculino como uma força superior. Mas é preciso atentar à mudança de pensamento, comportamento. Indo fundo nessa questão, podemos até nos arriscar a pegar emprestada parte desse princípio para explicar o conceito do homem dos novos tempos: aquele que se permite chorar, expor suas emoções e demonstrar sentimentos e fraquezas. Esse homem ficou mais feminino? Ou o conceito de feminino e masculino não é exatamente aquele que atribuímos como “coisa de homem” e “coisa de mulher”? Talvez tenhamos convencionado dessa forma ao longo dos tempos porque, em algum momento da sociedade, isso foi a decisão da classe dominante. Mas hoje, quando desconstruímos padrões, também ajustamos conceitos e desfazemos preconceitos.

Gênero e relação com religiões

É no taoísmo, por meio dos conceitos yin e yang, que vamos encontrar uma grande relação com esse princípio. Aliás, essa seria até mesmo uma analogia melhor do que feminino e masculino, para que não incorramos na confusão com sexo e questões biológicas isoladamente.

Para a filosofia chinesa, yin e yang representam o positivo e o negativo – o princípio da dualidade: um não vive sem o outro. Yin é escuridão, yang é luz. Yin é passivo, yang é ativo. Tigre e dragão. Opostos que se atraem e, quando potencializados, um tem o poder de criar o outro. Quanto mais temos de yin, menos temos de yang e vice-versa. Entretanto, para corpo e mente saudáveis, é fundamental encontrar o equilíbrio entre esses dois conceitos.

As questões científicas

Ilustração de uma mão aberta abaixo da figura de um cérebro

Por muito tempo acreditou-se na tese de que os hemisférios cerebrais tinham uma divisão de tarefas bem definida e estrita. Ela já foi exaustivamente questionada. Embora, de fato, haja funções específicas para lado direito e lado esquerdo, tudo indica que as tarefas sejam feitas em cooperação entre os dois lados, cabendo a cada um deles tomar a frente, conforme a necessidade.

Foram realizados estudos com pessoas que tiveram lesões graves em um lado do cérebro ao qual estariam atribuídas certas tarefas, e o que se revelou é que elas conseguiam fazer as atividades supostamente ligadas a essas áreas prejudicadas. Isso seria impossível, se cada hemisfério cerebral tivesse funções absolutamente definidas.

Ou seja, pareando essa questão do “mutirão” entre os hemisférios cerebrais e dos casos dos pacientes estudados, reforçamos o conceito da dualidade desse princípio hermético: um lado dá suporte ao outro, assim como cada lado tem um pouco do outro em si, o que permitiu, no caso dos pacientes, essa plasticidade cerebral.

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Falando das especificidades de cada hemisfério, hoje em dia, já consideradas bilaterais, algumas são bem interessantes de se mencionar. As habilidades numéricas estariam ligadas ao lado esquerdo, assim como a capacidade de elaborar raciocínios de forma clara.

O poder de reconhecer rostos seria responsabilidade do lado direito. Outra curiosidade é que o controle neuronal de cada metade do corpo é invertido: destros controlam mãos e pés preferenciais com o lado esquerdo do cérebro, ao passo que os canhotos fazem isso com o lado direito. Seria essa uma analogia à sintonia dos opostos operando graças ao princípio de gênero?

Na visão do “Caibalion”

O “Caibalion” é uma obra de referência, quando se trata de explicar o hermetismo. Publicado em 1908, com autoria atribuída ao pseudônimo Os Três Iniciados, o “Caibalion” reúne os sete princípios herméticos, com uma discussão bastante aprofundada.

A obra faz parte de um conjunto maior de ensinamentos místicos, em que residem os fundamentos e desdobramentos da filosofia criada por Hermes Trismegisto.

Assim o “Caibalion” define, na integra, o princípio de gênero:

"O gênero está em tudo; tudo tem o seu princípio masculino e o seu princípio feminino; o gênero se manifesta em todos os planos" – O Caibalion.

Este princípio encerra a verdade que o gênero é manifestado em tudo; que o princípio masculino e o princípio feminino sempre estão em ação. Isto é certo não só no plano físico, mas também nos planos mental e espiritual. No plano físico, este Princípio se manifesta como sexo, nos planos superiores toma formas superiores, mas é sempre o mesmo Princípio.

Nenhuma criação, quer física, quer mental ou espiritual, é possível sem este Princípio, a compreensão das suas leis poderá esclarecer muitos assuntos que deixaram perplexas as mentes dos homens.

O Princípio de Gênero opera sempre na direção da geração, regeneração e criação. Todas as coisas e todas as pessoas contêm em si os dois elementos deste grande Princípio.

Todas as coisas machos têm também o Elemento feminino; todas as coisas fêmeas têm o Elemento masculino. Se compreenderdes a filosofia da Criação, Geração e Regeneração mentais, podereis estudar e compreender este Princípio hermético. Ele contém a solução de muitos mistérios da Vida.

Nós vos advertimos que este Princípio não tem relação alguma com as teorias e práticas luxuriosas, perniciosas e degradantes, que têm títulos empolgantes e fantásticos, e que nada mais são do que a prostituição do grande princípio natural de Gênero.

Tais teorias, baseadas nas antigas formas infamantes do Falicismo, tendem a arruinar a mente, o corpo e a alma; e a Filosofia hermética sempre publicou notas severas contra estes preceitos que tendem à luxúria, depravação e perversão dos princípios do Natureza.

Se desejais tais ensinamentos podeis procurá-los noutra parte: o Hermetismo nada contém nestas linhas que sirva para vós. Para aquele que é puro, todas as coisas são puras; para os vis, todas as coisas são vis e baixas.”

A dualidade (masculino-feminino) é a condição sine qua non para que a criação exista. Temos os dois gêneros em nós, assim como eles habitam todas as coisas. O todo é dual. É assim que sua força se estabelece.

Não existe uma hegemonia do feminino sobre o masculino ou vice-versa. O que ocorre é que, a depender da situação, um ou outro é mais recomendado.

Desenvolver as habilidades masculina e feminina é a chave para um pensamento evoluído. Devemos buscar conhecimento, desenvolver habilidades, mesmo que achemos que não as temos. Porque as temos. Elas precisam apenas ser ativadas.

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