Só me dei conta do que o Universo estava tentando dizer quando li, de uma vez só, quase 50 páginas do livro Mulheres que Amam Demais da terapeuta americana Robin Norwood. Sentei-me displicente, minutos antes de fazer qualquer outra coisa que entendia importante, e não conseguia mais parar de ler. E, para ser sincera, não estava lendo porque achei o título interessante, ou que ele tivesse a ver comigo, não! Pelo amor de Deus, eu? Uma mulher que ama demais? Que isso! Sou uma terapeuta, meu amor, uma pessoa espiritualizada, claro que aquilo não tinha nada que ver comigo. Ledo engano.
Comprei porque há muito tempo queria e precisava ler, como terapeuta. Comprei porque achava que, talvez, precisasse ajudar pessoas que tivessem aquele problema. Codependência. Essa palavra feia que denota mulheres complicadas, com relacionamentos mais complicados ainda.
A autora começa o livro com explicações científicas, mas claras como água. O relacionamento que você teve na infância, com seus pais (ou cuidadores), é o mesmo que você carregará para o resto dos seus dias, com os homens. Confesso que achei essa frase um pouco forte e determinista demais (na verdade, ainda acho que o livro é determinista demais), mas comecei a perceber o que uma coisa tinha, finalmente, que ver com a outra.
Analisando os e-mails, mensagens e consultas com dezenas de clientes pude entender que o relacionamento amoroso é sempre o calcanhar de Aquiles de quase todas elas. Quase, é só porque existe lá, 1% talvez que não tenha realmente esse problema, e outros 3% ou 4% que ainda não entenderam que o tenham. O resto sabe. E sofre, sofre muito. Não entendem porque ele não liga no dia seguinte. Não entendem porque elas foram, mais uma vez, abandonadas. Não entendem porque não podem ter um relacionamento feliz e saudável ao lado de um homem legal que as leve para passear e não diga coisa como nossa, seu cabelo está fedido!
De fato, alguma coisa afasta essas mulheres (e por essas eu me incluo) do que é realmente saudável. Para elas amar é alguma coisa entre sofrer, amargar a solidão e dar um amor incondicional que, muitas vezes, não damos nem pra gente mesma. A relação de amor sempre passa por pedir demais, por implorar amor, atenção ou, ás vezes, só um olhar. E todas sabem como um olhar é importante. Aquele olhar. Daquele homem que quando entra pela porta a tristeza sai pela janela. Aquele homem que enche o ambiente, que enche a sua vida e o seu coração e, pelo qual, você está disposta a tudo. Tudo mesmo.
Tudo tipo aturar uma amante por anos a fio. Lavar, passar e cozinhar. Sofrer violência física, verbal e, como anda acontecendo ultimamente, econômica. Ter um cuidado tão grande com seu homem, morrendo de medo que ele fique bravo e, finalmente, te abandone. E, adivinhem o que acontece? Ele sempre acaba abandonando.
As mulheres que amam demais procuram por encrenca. Escolhem a dedo os tipos mais complicados que encontrarem pela frente e, pasmem, não sentem a menor atração (de nenhuma espécie) por tipos cavalheiros, educados e realmente atenciosos. Acham que eles são chatos, não tem graça, não tem sexy appeal, sabe? Isso porque estão tão acostumadas a crises e confusões que qualquer coisa que fuja disso parece entediante demais. Escolhem alcoólatras, drogados, homens casados, emocionalmente instáveis ou distantes. Escolhem o creme da confusão emocional, sexual e física. Homens que não sabem se são gays, heterossexuais ou os dois. Homens que não querem filhos e desaparecem frente a um compromisso. Enfim, aquele tipo de pessoa que exala problemas.
E escutam, muitas vezes: larga esse cara, não percebe que ele não te traz nada?. A resposta para essa pergunta é: sim, percebem! Mas não conseguem fazer nada, pelo menos não enquanto viverem repetindo padrões de falta da infância. Não tem a ver com culpar os pais dessas meninas ou as mães. Mas de encarar uma realidade de um passado que aconteceu e que, muitas vezes, está ainda tentando ser resgatado. Tudo o que estas mulheres querem é consertar o passado. É fazer com que aquele homem que copia o que elas passaram lá atrás, mude com a atitude e o amor delas. Pensam que se forem persistentes, pacientes e amorosas, ele vai deixar de ser daquela maneira horrível e eles finalmente terão um lar feliz e ajustado. Quando elas mesmas não estão felizes, nem ajustadas.
A solução? Bom, ainda não tenho todas as respostas. Mas penso que parar e repensar o tipo de relacionamento que você vem alimentando ao longo dos anos possa ser um bom começo. É claro que problemas todos os casais enfrentam e enfrentarão porque faz parte do crescimento de cada um, da evolução. Descobrir é o primeiro passo para resolver o problema.
Para aquelas que lerem este artigo, ou mesmo o livro, e se identificarem, procurar um grupo de ajuda como o MADA (mulheres que amam demais anônimas) pode ser uma baita ajuda. E, acima de tudo, se descobrir. Se amar muito e quebrar esse vínculo infinito de relacionamentos fracassados e infelizes. Os homens são o que são. E servem ou não para você. Essa é, realmente, uma lição importante.
Confira também: