O ego tem muitas facetas. Basicamente é de um ponto de vista espiritual, o ego surge no processo de individualização das almas, quando estas precisam passar por experiências na densidade da matéria, com vistas à evolução espiritual e, podemos dizer, para recobrar a memória de nossa natureza divina. Este processo, esta caminhada evolutiva de nossas almas ocorre desde longa data; não somos espíritos jovens, já estivemos aqui muitas vezes e estaremos muitas outras, tudo com a finalidade de acumular experiência, conhecimento e desenvolvermos as "possibilidades divinas" que estão latentes em nós.
Pode parecer algo extremamente simples à primeira vista. E é, não fosse pelas dificuldades geradas pelo nosso ego. Como dito anteriormente, o ego surge naturalmente pelo processo de individualização das centelhas divinas, o problema é que acabamos nos identificando com aquilo que o nosso ego acreditar ser. Por exemplo, para evoluirmos espiritualmente, faz-se necessário que vivenciemos as mais diversas situações que o planeta Terra pode nos oferecer, mas ao invés de vivenciarmos tais experiências com a finalidade do crescimento, acabamos nos iludindo e fazendo dessa experiência a verdade máxima de nossa existência. Algo que existe para ser transitório, acaba inúmeras vezes sendo objeto de apego extremo. Neste preceito, podemos fazer referência às profissões, status social, bens materiais, à pessoas e inclusive às doutrinas religiosas.
Estas últimas, de um modo especial, causam grande rigidez e acomodação, afinal, podemos lidar com certa destreza quando perdemos nossos bens materiais; podemos nos levantar e seguir em frente quando rompemos vínculos afetivos com outras pessoas; mas quantos de nós podemos nos considerar preparados para questionar o fruto de nossas devoções? Quem de nós se preparou ao longo da vida para aceitar que talvez, a fé que cultuamos foi algo herdado culturalmente e que é passível de questionamento? Não pretendo gerar desconforto, mas entendo que isso também é um aspecto do ego. E como todos os outros aspectos, este também necessita de compreensão de nossa parte.
Para compreender devidamente isso, vamos retornar ao raciocínio que estava sendo desenvolvido no início deste texto. Eu dizia que a finalidade da reencarnação e das vivências na matéria é o acúmulo de conhecimentos, experiências e estimular o florescimento das potencialidades divinas que existem em nós. Esse processo, podemos dizer que é algo como uma "descida cósmica", pois primeiramente, descemos da grande consciência cósmica até a densidade da matéria para vagarosamente evoluirmos, ou seja, "subirmos" rumo ao infinito. A cada encarnação subimos um ponto, ampliando conhecimentos, vivendo nas mais diversas situações que essa morada cósmica nos oferece. Mas o ponto essencial que devemos compreender é que deverá chegar o momento - cada um em seu ritmo - em que cada um de nós compreenderá que para seguirmos em frente, precisaremos nos desapegar do nosso ego e suas identificações, para sermos devotos de nossa centelha divina, ou seja, da parte de Deus que reside em nós e que nos liga a todas as outras.
Certamente que é louvável que cada um seja devoto de algo e quem afirma que não incorre em erro, pois esta (o ceticismo) é mais uma das armadilhas do ego. Afinal, não é raro encontrarmos céticos e descrentes afirmando que a devoção é apenas uma muleta para fracos e, ironicamente, são esses mesmos indivíduos que servem-se dos mais prejudiciais entorpecentes para aliviar a própria frustração existencial. Mas é raro - extremamente raro - encontrarmos indivíduos que perceberam que a verdadeira fonte de satisfação é interna. Esses indivíduos entenderam que tudo é passageiro, a única coisa permanente é o nosso EU MAIOR. Este não depende de rituais e não há risco de frustração.
Através da poderosa ferramenta do autoconhecimento, estaremos passo a passo nos aproximando da divindade maior, pois este reside em cada um. Logo, onde quer que você vá, você estará no paraíso. É que o paraíso não é um lugar a ser visitado, mas é um estado de consciência a ser cultivado.
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